domingo, 3 de junho de 2012

O caos do descaso. Ou a educação em queda livre.



Pra começo de leitura é meu desejo informar que estive ausente das postagens no blog por motivos pessoais e ao mesmo tempo cansado de ler e ouvir tanto descaso como o que vemos todos os dias no Brasil. Esse distanciamento se deu desde o início das pirotecnias das CPI's que assolam o congresso e, como de sempre, seremos obrigados a enxergar mais um disse me disse sem nenhum efeito prático. A tudo o que posso afirmar é um desejo total de raiva por não aguentar mais essas calhordices polítiqueiras do país das bananas. De certa forma eu estava em greve para não escrever nada pelos motivos já citados. Cansado dessas coisas vergonhosas. O mais chato disso tudo é encontrar sempre aquela velha e malfadada frase de que "estamos trabalhando para dar uma resposta que a opinião pública e o povo merece". Parafraseando o nordestino diria que isso é um algo como "vôti" (um sentimento de espanto). Até porque isso não vai acontecer. Esses calhordas do poder continuarão, infelizmente, para sempre "amém".

Mas o assunto de hoje é o que se encontra na cabeça de cerca de 80% (talvez mais) professores das instituições federais de ensino (IFE's). É a lastimável greve. Um instrumento que é o último respiro para o cidadão que se encontra sufocado pelos ditâmes de um patrão infame como o é o governo dos PTralhas.

Já é sabido que nenhum país pode se dar ao luxo de menosprezar a base de sua sociedade. Mas isso são coisas para serem pensadas de países com governantes que pensam seriamente no assunto e não façam jogos de meias palavras ou de mentiras para com essa classe. Veja esse vídeo abaixo de uma das maiores enganações e mentiras do atual governo.



Então, como dizia antes, a demagogia é um alvo muito fácil de ser observado. Em particular naqueles que a prática é bastante comum. E essa é uma prática tão comum dos políticos do Brasil que não podemos fazer, sequer, uma exceção. É quase impossível encontrar algo diferente dessa situação.

Pois bem, os noticiários que foram ao ar (bem pouco, claro) fica evidente a greve dos professores das IFE's. Contudo,  ficou claro o que a mídia desse país obviamente costuma fazer. Ficar do lado da malandragem e esconder as reais situações pelas quais esse povo se encontra. Isso só acontece se for de interesse para aquelas. Não é o caso da educação. Talvez fosse se acontecido com alguma fábrica de cerveja ou clube de futebol. É lamentável que estamos em um país onde a mídia é, no mínimo, degrandante. Ou agrada o machado ou agrada a foice. Jamais atina para o trabalhador. Enquanto isso, a sociedade pena.

Não é de hoje que professores das IFE's fazem greve. Mas acontece por motivos bastante simples: o descaso com a educação no Brasil. Algo que não deveria acontecer, concordo. Aliás, quem gosta de greve? Ninguém, imagino. Contudo, ela tem de ser posta à população para que de fato todos (ou grande parte desses) possam saber da real verdade pelo que passa a situação, no caso, da educação no Brasil. Mas antes que eu possa escrever um pouco mais, há quem diga que uma foto vale mais do que qualquer palavra. Então, o que diríamos de um vídeo? Veja abaixo.




Essa é uma das pouquíssimas ilustrações das situações pelas quais encontram-se várias universidades federais no Brasil. Mas esse governo federal não faz o que de fato deveria se preocupar. Enquanto isso, as IFE's mofam ao sabor de pouco ou nenhum esclarecimento por parte da sociedade que (uma boa parte) não faz, também, questão de se inteirar do que acontece. Se alunos podem perder o semestre e serem prejudicados isso não é um momento de agora. Os alunos e a sociedade já vem perdendo isso todos os anos. Não tem como dizer que é possível ter boa formação ano após ano se o aluno que está se formando sabe exatamente a fraca qualidade da sua formação face aos problemas envolvidos nas IFE's. Então, não adianta reclamar só por um momento. Tem de ser utilizado esse momento para reclamar pelo passado, presente e futuro. Veja mais esse vídeo.



A greve dos professores das IFE's está sendo apoiada por diversos setores da sociedade civil, inclusive dos diretamente interessados. Os alunos [1, 2].










Isso é mais uma informação importante para esse governo que se mostra enclausurado em seu castelo de faz de conta com a educação. Enquanto o Sr. Ministro da Educação, Aloísio Mercadante (aquele que obteve sua tese de doutorado de forma suspeita, veja aqui) vem à população para lançar mentiras o que se pode dizer é que o papel que ele faz é, no mínimo, vergonhoso ao tentar passar para a sociedade que a greve é sem sentido ou não apropriada.  




A greve dos professores das IFE's que se alastrou de norte a sul do Brasil está mostrando para esse governo que a sociedade precisa ser escutada e levada a sério. Que não basta um faz de conta e dizer que fez isso ou aquilo quando as palavras ficam bem distanciadas da realidade.


"carta ao Ministro por Jeferson Dombroski

O valor do professor,

Caro ilustríssimo sr. Ministro, Ouvi sobre a sua ignorância dos motivos de nossa greve nacional, e me senti compelido a esclarecê-lo (vício da profissão de professor, eu suponho). Peço desculpas se o meu português é ruim ou se a sequência das ideias é falha, mas esse é o meu valor. Se eu fosse mais capaz, estaria em uma profissão que me valorizasse mais. Seria ascensorista no Senado, por exemplo (ah, que sonho!). Como diria um vendedor de carros que eu conheço, ”quem mandou estudar, agora aguente”. Falo de boca cheia, o sr. diria. Argumentaria que recebo muito mais do que a grande maioria da população brasileira, e eu lhe responderia que são poucos os cargos federais que pagam menos do que o magistério, que existem cargos de nível médio no executivo federal que pagam melhor do que os professores doutores recebem. E que o professor é importante para o crescimento da nação (aprendi isso no debate da Dilma candidata – pareceu que ela realmente dá muito valor ao magistério. Votei nela). Mas magistério é um sacerdócio, não é mesmo? É uma profissão feita de abnegação. O que mais explicaria um médico desistir de clinicar para receber o salário de professor federal? Bom, talvez se ele fosse um médico excepcionalmente ruim, daí o salário de professor federal compensasse. Então ele poderia ser um bom professor. O grande motivo da nossa greve, sr. Ministro, é a busca por valorização profissional. Tenho vários colegas professores cujo sonho de vida, hoje, é passarem em concurso para o MCT, ou para o Judiciário, e eu, quem sou eu? Para mim, economicamente falando, me bastaria o emprego de ascensorista no Senado. O sr. tem filhos, sr. Ministro? Netos, talvez? Almeja uma educação com qualidade para eles? O sr. sonha com uma sociedade educada? Culta? Sonha com o Brasil se destacando no mundo como o Japão fez depois da Segunda Guerra? Como a Coréia hoje? O sr. sabe quais são as minhas condições de trabalho, sr. Ministro? Sabe que eu sequer tenho uma mesa para colocar a minha pasta quando eu entro para dar aulas? Sabe que eu, há dois anos, comprei um projetor para dar aulas? Que nós rasgamos as calças ao sentar nas carteiras, por causa dos pregos? Que o computador pessoal que eu uso para dar aulas também saiu do salário que deveria ir para a minha família? Sabe que na minha universidade não existe nenhuma calçada para as pessoas andarem? O sr. imagina qual é a situação dos laboratórios dos cursos em que eu ministro aulas, que são cursos tradicionais, reconhecidos nacionalmente, e que não foram contemplados pelo Reuni? É, são ruins. Não são péssimos, sabe o por quê? Porque os professores, por mérito pessoal e muito trabalho, trazem recursos de pesquisa para dentro dos laboratórios (caramba, isso é desvio de recursos! Dá cadeia?). O sr. sabe, é claro, que o perfil desejável do Professor Universitário Federal é que ele seja doutor, com dedicação exclusiva (é impedido de fazer bicos para completar o salário), pesquisador, orientador e extensionista, e que além das aulas de graduação, forme Mestres e Doutores. Qual é o perfil do profissional que o sr. precisa para executar essa missão? Eu lhe digo. Esse profissional, economicamente falando, é alguém que não teve a competência para achar nada melhor para fazer com a sua vida. É alguém que não foi capaz de passar em um concurso para ascensorista do Senado. É alguém que não conseguiu ser agente de saúde quando terminou o segundo grau, por exemplo. Sim, eu “tenho” carro e eu “tenho” casa. Eu me alimento bem. Meu carro é velho (tem seis anos) e ainda vou demorar dois anos para acabar de pagar. Minha casa é velha também e eu ainda vou levar treze anos para pagar. Essas dívidas consomem quase 50% da minha renda familiar. Tenho que pensar antes de decidir sair para almoçar em um restaurante. E o pequeno detalhe é que tanto eu como a minha esposa somos professores universitários federais e doutores com dedicação exclusiva. Topo da carreira. Bom, mas eu tenho uma perspectiva, não é? De progredir na carreira e melhorar meu salário? Perspectiva? não, não tenho. Não vejo nenhum futuro promissor. Essa carreira que o governo me oferece não irá melhorar a minha vida, a não ser um pouco, no momento mágico da progressão em que eu me tornar professor associado, ou com a utopia de passar pra professor titular (a minha universidade não tem nenhum. Teve uma vez, nos meus 22 anos de funcionalismo federal em universidades, que eu conheci pessoalmente um Titular. Deve ser mais fácil achar um jacaré no Tietê). Eu espero, apesar das minhas deficiências, que o sr. tenha entendido um pouco do porque eu e 45 universidades federais brasileiras estamos em greve. Desculpe-me se eu não posso elaborar mais, mas tenho um relatório de pesquisa para terminar e alunos de doutorado para atender, apesar da greve. Se eu achar tempo, também preciso ver se abriu vaga para ascensorista.

Um grande abraço, sr. Ministro, e obrigado por tudo.

Jeferson Dombroski"


É natural que o professorado queira as mínimas condições de trabalho para poder satisfazer não só apenas a ele. Mas a formação apropriada para quem deles dependem. Não adianta esconder o sol com peneiras. Nada mais justo do que ver e ouvir os vídeos reveladores para que a tática da tapeação do governo federal nas palavras do seu interlocutor "mór" se calem e apresentem a essa sociedade o que ela espera. Respeito pelos professores e pela própria sociedade.








Face a breve discussão da greve dos professores das IFE's, acredito que já é o suficiente para que a sociedade, represente a cobrança de seus direitos e obrigações e se faça refletir agora para que não se espantem amanhã. 

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